domingo, 22 de agosto de 2010

Bestialidade

 O grotesco não está de volta. Ele nunca nos deixou. Mas está no vento! Tal como "o feio, o porco e o mau". Afirmar que ultrapassa os limites não passa de um pleonasmo. O grotesco está sempre a ultrapassar limites. Essa é a sua sina. Mas, por vezes, surpreende. Pela pujança e pelo insólito. É o caso do anúncio “slow motion” da Carlton Draught. 

Carlton Draught. Slow Motion. Clemenger BBDO.
Paul Middleditch. Agosto 2010

Não deixa de ser tentador, mas infundado, entrever, neste anúncio, alguma intertextualidade perversa, uma espécie de réplica paródica ao grotesco “hiper-realista” e degradante de algumas campanhas anti-álcool, anti-tabaco, anti-obesidade… Atente-se, por exemplo, nos seguintes anúncios provenientes de campanhas anti-álcool e anti-tabaco, dois, por sinal, portugueses.

Binge Drinking Awareness. Anti Bing Drinking NHS. 
Atticus Finch. Chris Richmond. UK, Jul. 2010.

ENNEMM. Don't be a pig. Vinbudin. 
Sammuel & Gunner. Islândia. Maio 2008.

AECC. Sneeze. Torrelazur McCann.
Espanha, Jul. 2002

Fundação Portuguesa de Cardiologia. Modelos. 
Brandia Novodesign. Portugal. Set. 2005

Fundação Poruguesa de Cardiologia. Gêmeos.
Brandia Novodesign. Portugal. Set. 2005

É provável que os promotores destes anúncios tenham razão. Mas ter razão não é o mesmo que ter a razão, e muito menos ser capaz de fazer bom uso dela. Afigura-se-me que uma campanha de sensibilização comunitária não pode dispensar o respeito pelo outro, seja este vítima ou infractor. Certos (ab)usos da razão revolvem, de algum modo, velhos fantasmas, tais como as purgas dos totalitarismos do séc. XX ou os desmandos das Guerras da Religião dos sécs. XVI e XVII, ambos propensos a conceber o outro como um mostrengo ou um demónio. Mas há quem tendo (a) razão também a sabe utilizar, com eficácia, criatividade e bom gosto. É o caso dos seguintes anúncios (o primeiro, português, foi premiado em Cannes).

Fundação Portuguesa de Cardiologia. Balão. 
Ammirati Puris Limpas. Portugal. Jun. 1999

INPES. Chance. DDB France. Manu et Fleur. 
França, Mar. 2010


1 comentário:

Maria Gonçalves disse...

Numa época em que aos princípios da igualdade estão instalados, é interessante ver como avançamos com os olhos no espelho retrovisor...
Será que são apenas diferentes sensibilidades...
Gostei da análise!